A Doença Oncológica

A notícia da existência de um cancro provoca naturalmente uma experiência de sofrimento psíquico caracterizada por emoções imediatas mas também por outras mais duradouras e que surgem ao longo do processo de doença. 

A morbilidade psicológica e psiquiátrica dos doentes oncológicos é significativa e complexa, situando-se num amplo espectro e podendo desenvolver-se em diferentes fases da doença desde o diagnóstico à fase de sobrevivência. 

Apesar dos avanços da oncologia médica o cancro continua a vincular-se a uma imagem de sofrimento, estigma, culpabilidade, isolamento social e perda de sentido. 

Neste percurso da descoberta da existência de um cancro é natural surgirem várias perguntas:

-“Vou morrer?”
-“Vou continuar a ser capaz de seguir com a minha vida?”
-“O que vai mudar?”
-“Vou perder a minha independência?”
-“Que riscos corro?”

O choque inicial traduz-se muitas vezes por uma experiência de medo que poderá fazer com que o indivíduo seja incapaz de elaborar uma resposta emocional atempada a uma notícia complexa e que modifica o percurso de vida.

É importa salientar que a resposta psíquica a um evento desta magnitude como a descoberta da existência de um cancro é muito variável e depende de:

– Fatores individuais: Características da personalidade, mecanismos de coping, experiências prévias, estado de saúde fisica e psíquica atuais; 

– Fatores contextuais: Que sistema de suporte o indivíduo tem? Qual a sua situação
sociofamiliar e que adaptações esta permite? Como foi transmitida a notícia do diagnóstico?

– Fatores ligados à doença: Quais os riscos de mobilidade e mortalidade? Quais o
tratamentos a levar a cabo?

Assim, será natural e universal existir uma experiência de sofrimento associada ao diagnóstico de cancro, caracterizada muitas vezes por emoções avassaladoras como medo, desespero, sensação de perda de autonomia,
vergonha, tristeza, raiva e frustração. 

Sintomas psicológicos de maior gravidade como sintomas de ansiedade com episódios de pânico, insónia persistente e irritabilidade podem ser preponderantes e acarretar elevada disfuncionalidade no indivíduo. 

Posteriormente, em alguns casos, poderá surgir uma reação depressiva com tristeza, isolamento e apatia. 

Este tipo de respostas além do evidente sofrimento psíquico poderão acarretar também impacto na própria doença oncológica (ex: negação da doença, evitamento dos tratamentos ou de consultas, incapacidade de tolerar tratamentos etc) prejudicando o prognóstico. 

Neste contexto o acompanhamento em consulta poderá ajudar a identificar, clarificar e verbalizar as emoções associadas a este processo, providenciar o suporte e tratamento adequados no caso de existir doença mental evitando respostas prejudiciais permitindo ajudar o doente a lidar com a doença de forma a diminuir o sofrimento.

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Dr. Mário Santos

Mestrado Integrado em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e Pós-graduação em Terapia Cognitivo-Comportamental pela Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário. Especialista em Psiquiatria e Terapia Cognitivo-Comportamental.