A maternidade é, provavelmente, um dos acontecimentos mais transformadores do ciclo
de vida da mulher. Para além de toda a expectativa de vivência de uma relação afectiva
intensa com o(a) filho(a), a mulher é assoberbada por mudanças que ocorrem em
praticamente todas as esferas da sua vida. Mudanças fisiológicas e hormonais, com todo
o seu impacto psico-emocional, mudanças cognitivas, que fazem surgir sentimentos de
culpabilidade e dúvidas relativas à sua capacidade de exercer o papel de figura
cuidadora e mudanças socias que a fazem repensar a sua identidade enquanto mulher, a
dinâmica da sua relação conjugal e o seu papel no contexto laboral.
Ao contrário do que se pensava acerca do papel protetor da maternidade para o
desenvolvimento de transtornos mentais, a investigação recente demonstra que a
gravidez e o puerpério são etapas pautadas por marcada vulnerabilidade para o
aparecimento ou agudização de doenças mentais. É sabido que uma em cada quatro
mulheres virá a desenvolver alguma perturbação mental ao longo do período perinatal,
sendo a Depressão Pós-Parto e as Perturbações de Ansiedade os quadros clínicos mais
frequentes.
Conhecidos os efeitos nefastos da doença mental não tratada quer para a saúde da
mulher, quer para o crescimento saudável do feto e para o estabelecimento de uma
vinculação segura e cálida entre mãe e bebé, é essencial que haja um reconhecimento e
tratamento precoces destas patologias. A mulher deve ser acolhida, respeitada e
fortalecida, criando-se uma rede de suporte que a permita recuperar e estruturar uma
relação afectiva com o seu bebé, de forma a vivenciar em pleno o processo da
maternidade.